26 de fevereiro de 2010

O bicho que virou Homem

É senso comum que aquilo que distingue o Homem de todos os outros seres vivos é a racionalidade.
Hoje venho aqui dizer-vos que além da racionalidade, outro grande factor faz de nós Homens: a capacidade de amar.

Aviso que este não é um post cómico. Não direi piadas. Não vos farei cair a rir.
Mais importante que isso, não desejo uma gargalhada da vossa parte, mas apenas um momento de reflexão.


O Pedro viu a sua vida desmoronar, quando aos 30 anos deparou-se com uma licenciatura nas mãos, no desemprego; o pai morrera este ano; a mãe fechava-se em casa e não lhe dava nenhum tipo de afecto; não havia namorada há mais de 2 anos; os amigos separaram-se com o fim do curso; não tendo companheira, não esperava filhos para breve; não tinha o carro com que sempre sonhou, a casa que o seu curso prometia poder pagar; não tinha prestígio.
O Pedro viu a sua vida desmoronar, quando aos 30 anos deparou-se com um morto-vivo que era; um não-realizado; o resultado de um sonho não cumprido.

Os bichos quando se sentem ameaçados fogem para os cantos e assim fez Pedro, que numa noite embebedou-se, caiu num canto da sua casa de banho e passou a noite a chorar. A sua vida estava acabada, e aquele momento, naquela casa de banho abriu-lhe os olhos para esse fim. Ele era nadfa. Pedro era 1 pessoa em milhares de milhões de habitantes deste planeta, e mesmo assim nunca se sentira tão só.

Ouviu então uma voz, era um antigo amigo de curso:
"Pedro, porque estás aí caido?"
"Não tenho ninguém que me abrasse, que me diga que sou bom, que mereço a minha vida! Estou só, e há tantos a meu redor!"
"Pedro, sabes porque estás só? Porque tal como os bichos, em situação de receio fugiste para um canto, e aí não te consigo abraçar! Por mais que tente os meus braços, as minhas mãos ficam presas contra a parede, e o teu corpo não recebe o meu consolo!"

Pedro olhou e viu que era verdade. Toda a sua vida tinha-se encostado aos cantos, toda a sua vida deixara passar oportunidades, sempre desistiu cabisbaixo.
Pedro levantou-se afastou-se do canto da casa de banho e foi abraçado pelo amigo.

Foi um calor, uma luz, um empurrão. Falta-se-lhe o ar, os olhos ficam cheios de lágrimas, mas são lágrimas que lavam, é um choro de consolo.

Afinal o Pedro tem amigos, e voltando ao ponto de partida, os amigos fazem de nós aquilo que somos. Sem amigos somos bichos, tal como todos os que andam por aí: baratas, larvas, minhocas, abandonadas e desprezadas, um elo na cadeia alimentar.

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Um obrigado a todos os meus amigos. Obrigado pelos sorrisos, pelos abraços, pelos empurrões, pelas feridas que causam e pelas discussões. Obrigado por serem assim, Homens!

Obrigado por ajuderem este bicho a ser mais Homem.

1 comentário:

CandyApple disse...

Bom post, muito bom Miguel :)